quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Um banca diferente

Por toda a cidade há milhares de bancas de jornal espalhadas. Só na praça da Cinelândia são mais de cinco e para quem olha de longe, todas parem ser iguais. Porém, na esquina da movimentada avenida Rio Branco com a avenida Presidente Wilson há uma banca diferente. Não só pela TV na entrada que fica passando shows de blues o dia inteiro ou pelo nome, Banca do Blues. O grande diferencial é que dois sábados por mês a Banca promove show de Blues em plena calçada do Centro. Paulo Vanzillotta conta como surgiu o projeto.

- Em agosto de 2006, um amigo sugeriu fazer um show de happy hour, uma espécie de jam session. A idéia era fazer uma vez só, no começo não deu muito certo, havia pouca gente. Resolvi insistir, passei a fazer show toda sexta-feira com a idéia de dar espaço para novas bandas. O público foi aparecendo e hoje junta cerca de 300 pessoas. Nunca tive que procurar ninguém, hoje as bandas fazem fila para tocar aqui.

Inicialmente os shows aconteciam as sextas-feiras. Porém, problemas com um restaurante vizinho o fizeram suspender as apresentações por um tempo. Hoje, com autorização da sub-prefeitura, os show acontecem por volta de 19:30h nos sábados, a cada 15 dias.

Paulo tem a banca há 15 anos e diz que sempre foi voltada para o blues, mas que nunca tinha pensado em produzir shows. Ele conta que a esquina não é um bom ponto para uma banca convencional, mas que o diferencial acaba trazendo clientes, seja pela curiosidade, seja pelo interesse. A internet é a maior aliada na hora da publicidade. A Banca tem comunidade no Orkut com quase 700 pessoas e até um blog, no qual o dono posta as fotos dos shows. Listas de e-mails e blogs de bandas, músicos e fãs também ajudam a divulgar os eventos.

O grande divisor de águas foi o tributo ao Eric Clapton, produzido por Paulo e realizado no dia 30 de março, aniversário do guitarrista. A “casa” ficou cheia e o jornalista Mauro Ventura estava presente. Com isso, começaram as matérias na mídia, revista de Domingo do JB, Band, JB entre outros.

- O blues não tem muita atenção. Quando uma banda quer tocar em uma casa noturna, praticamente paga pelo show. Inicialmente pensei que não teria muito público. Mas o fato das bandas terem uma chance de se apresentar de graça fez com que as pessoas fossem chegando e a boa música rolando. O blues é um estilo que tem público, mas não tem espaço. Ver o público aumentar me deixa muito feliz. Fico feliz em propagar a boa música – comenta o jornaleiro.

Paulo investe agora na realização de seu grande sonho: Fazer um tributo ao Eric Clapton no Circo Voador ano que vem. Ele conta que pela quantidade de pessoas que estavam presentes no tributo deste ano, teria público para encher a casa na Lapa. A idéia é que cada uma das quatro bandas toquem uma fase da vida do guitarrista. Ele está disposto a investir dinheiro do próprio bolso, para depois que estiver tudo acertado, correr atrás de patrocínios como cervejarias e fabricantes de cigarro.

Além dos shows da Banca, Paulo produz um show de blues que acontece toda quinta-feira às 19h no Severina da Glória.


BANCA DO BLUES
Av. Rio Branco, 311
Tel: 2517-3310
E-mail: bancadoblues@gmail.com
Site: www.bancadoblues.blogspot.com

Protegendo a história

O Mosteiro de São Bento foi fundado por monges beneditinos vindos da Bahia em 1590 e ainda funciona como tal, no centro do Rio, existindo a seu lado um dos estabelecimentos educacionais mais importantes e tradicionais do Rio de Janeiro: o Colégio São Bento. O Mosteiro erguido no morro de São Bento, é um dos principais monumentos de arte colonial da cidade e do país, porém ele vinha correndo riscos.

Um decreto publicado neste mês criou uma Área de Proteção ao Ambiente Cultural (APAC) no entorno do Mosteiro de São Bento. Pela primeira vez, uma APAC rege sobre parâmetros ambientais, tais como níveis de ruído. O estudo feito pela Secretaria Municipal das Culturas - Patrimônio Cultural - considerou que os danos causados pelas altas vibrações sonoras em torno do Mosteiro afetam não só o patrimônio material, mas também o patrimônio intangível.

Com a iniciativa, a Prefeitura toma medidas concretas com relação à proteção, já que o decreto autoriza o projeto e obras de tratamento acústico para a Perimetral. A nova APAC incorpora e amplia a já existente, criada em 1997, que abrangia a Rua Teófilo Otoni e suas adjacências, incluindo o tombamento de um imóvel da Avenida Rio Branco, 19, esquina com Rua Dom Gerardo. O edifício é remanescente da época de abertura da antiga Avenida Central, hoje Rio Branco, que está prestes há comemorar 100 anos.

“Tem muita história de tráfico por ali, acaba dando repercussão no colégio”

Entre as favelas de São Carlos e do Turano, o CAP UERJ abriga em torno de 1.020 alunos do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio.
Haline Oliveira de 16 anos é estudante do segundo ano. Ela conta como é estudar no Rio Comprido, morando na Zona Sul. Fala sobre a diferente realidade de estudar em um colégio longe de casa, com a maioria dos alunos morando na Zona Norte. A estudante lembra o dia em que todos ficaram presos dentro do colégio porque havia um tiroteio entre traficantes dos dois morros e a polícia na rua da escola.

Luna – Como é estudar no Centro, que não é algo muito comum?
Haline – Pra mim é muito difícil porque eu fico distante da escola. Eu moro em Botafogo, na Zona Sul, e não posso ir de bicicleta, tenho que pegar ônibus, fico dependendo de horário, condução. Não gasto dinheiro agora por causa do Rio Card, que foi um adianto pra todo mundo que tem que ir de ônibus, obrigatoriamente. Mas eu fico a mercê do tempo e de trânsito e de engarrafamento e tal.

Luna – As linhas de ônibus, principalmente os que não circulam só dentro da Zona Sul, acabam dando voltas muito grandes. Pra você é rápido? Qual ônibus você costuma pegar?
Haline – Eu posso fazer dois caminhos. Ou eu acordo muito cedo e pego um ônibus até o metro de Botafogo. No metro a linha um toda até o Estácio e de lá um ônibus até o Rio Comprido ou eu pego o 409 Rebouças ou o 438 Rebouças, que começaram a circular ano passado. Foi maravilhoso, com o túnel você chega em cinco minutos no colégio.

Luna – Falando em Túnel Rebouças, como foi durante essa semana que o túnel tava fechado? Quanto tempo você demorava? Que caminho você fazia? Você conseguia chegar na hora no colégio?
Haline – Foi insuportável. Foi no meio da minha semana de provas, foi horrível. A minha prova de química era a que eu mais precisava de nota e eu cheguei de manhã, a minha rua tava parada porque é a principal de circulação pro Rebouças. Não tinha lugar, tava simplesmente parada, lotada. Eu não consegui chegar no colégio nesse dia. Foi o caos. De fato pra quem estudava no Centro da cidade, pro lado de lá, foi impossível de chegar no colégio. Agora, na semana que se seguiu a isso, eu tinha que acordar uma hora antes e fazer o caminho com o meu pai, que ele acabou me levando...contornando o Rio de Janeiro inteiro, pelo outro lado. Pegava Botafogo inteiro, Flamengo, Centro, Estácio...

Luna – Em relação aos seus amigos, você é a única que mora na Zona Sul?
Haline – Bem, o CAP sendo uma escola pública de qualidade, de concurso, tem muita gente que já é de lá mesmo. Tem muito pouca gente que mora na Zona Sul, que escolhe ir pro CAP até por termos financeiros. Mas é a minoria. Até é muito difícil pra fazer trabalho de grupo e tal porque você tem que se juntar com o pessoal que mora em Campo Grande, Jacarepaguá, eu aqui em Botafogo, é muito difícil.

Luna – A maioria mora aonde?
Haline – Zona Norte. A maioria arrasadora do colégio é Tijuca, Grajaú e muita gente em Jacarepaguá. Agora tem gente da Barra também, tem uma galera da Barra, tem algumas pessoas de Lagoa, Leblon, Botafogo, no máximo.

Luna – E fora do colégio, na hora de sair, fim de semana, você consegue manter amizades, encontrar as pessoas?
Haline – É muito difícil. Assim, é muito difícil você ter a sorte das pessoas que morem na Zona Sul serem da sua turma ou da sua idade porque tem muita gente que era do terceiro ano, que já saiu do colégio. Por exemplo, na minha série, muito pouca gente que eu conheço, que eu gosto, que são meus amigos moram na Zona Sul. No grupo de amigos eu tenho um que mora no Anil, um em Jacarepaguá, uma em Campo Grande e uma em Laranjeiras. Então assim, é muito difícil, tem que marcar com um mês de antecedência pra você conseguir encontrar. É muito diferente de quando eu estudava, até a quinta série do lado da minha casa, no Paula Barros. Era muito mais simples, todo o meu ciclo de amigos era em torno do colégio, enquanto agora não.

Luna – Você estudava do lado de casa e agora estuda no Centro. Além dos seus amigos, o que você mais sentiu diferença?
Haline – Quando eu não pegava o 438 Rebouças, eu ia de condução porque era muito chato você acordar muito mais cedo e ficar dependendo de ônibus, então eu ia logo com a condução. Quando eu comecei a pegar ônibus não porque o tempo é pequeno do meu ônibus, mas até com a condução é o tempo. Porque você leva muito mais tempo, você tem que acordar muito mais cedo, você demora muito mais tempo pra chegar em casa, trabalho de grupo, os seus amigos, tudo a sua volta sabe. O colégio acaba dificultando as suas relações em qualquer fator.

Luna – Você acabou vendo uma realidade diferente, porque bem o mal a gente de Zona Sul ta acostumado com as pessoas da Zona Sul. Como é que é essa coisa da realidade diferente, das pessoas da sua idade que moram muito mais longe?
Haline – Com certeza, tem uma diferença muito grande. Porque você acaba que quando você estuda perto de casa você conhece as pessoas, você conhece o estilo das pessoas, o que elas fazem no final de semana e até quando saem dali, todo mundo tem mais ou menos que a mesma linha. No CAP pra mim é absurdo, porque além do Rio Comprido ser muito perigoso, diferente de onde eu moro, assim, não é a mesma realidade, é muito perigoso, você tem que tomar e muito cuidado quando sai na rua com as pessoas, até pra almoçar, porque o meu turno é integral. As pessoas são diferentes. Tem roubo no colégio, sabe, é uma galera que tem de tudo na verdade. É um grupo que você encontra vários estilos de pessoas.

Luna – Você falou que o Rio Comprido é muito perigoso, ali é cercado de morros, cada vez mais. Há alguns anos teve o caso daquela menina Luciana que foi baleada dentro da universidade. Como é que é isso, já teve situação de vocês ficarem presos dentro de sala de aula, ou no colégio? Como é conviver com esse medo de tiroteio?
Haline – É muito complicado. Já houve uma vez que eu tava no colégio, o meu colégio fica no centro da rua Alexandrina e o começo da rua da num morro e o final da em outro morro. Então tem muita história de tráfico por ali, de pessoas que descem com maconha, enfim, acaba dando repercussão no colégio e houve várias vezes além de assalto na rua, que acabam prendendo as pessoas no colégio que é para não serem assaltadas pelas pessoas que estão rondando a rua, houve uma vez que teve um tiroteio no horário da saída, na nossa rua. Os traficantes da favela do começo da rua com os do final da rua. Então foi um tiroteio absurdo na porta do colégio, vários policias passando por ali tentando apaziguar e várias criancinhas de C.A ao terceiro ano presas no colégio meio-dia e meia não podendo sair por causa disso.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Henrique

“Depende”.
“Como assim, depende?”
“Ué, depende porque depende”.

Uma quinta-feira, as três da tarde, na Praça XV é sempre familiar. Pessoas descendo da barca, indo ao centro pelos mais diversos motivos. No meio de todos esses propósitos o meu parecia o mais simples : Flanar. O motivo pelo qual peguei a barca, as duas e meia da tarde, para atravessar a Baía de Guanabara, sempre olhando para os coletes salva-vidas pendurados no teto, foi para chegar ao pedaço de terra do outro lado e passear, procurando um assunto para escrever. Porém o assunto me achou, sem eu ter que procurar.

Quando cheguei na Praça XV me deparei com uma lanchonete. O sol, que nesta hora queimava o topo das cabeças dos atarefados, me fez parar e comprar um sorvete. E foi ali que ele me abordou. Vestia uma camisa velha, surrada, que em alguma época anunciava um político qualquer, shorts curtos e sandálias de dedo, um ou dois números maior que seus pés.

“Tia, me vê um real, pra eu comprar um negócio?”
“Que negócio?”
“Relaxa Tia, é de comer.”
“O que é?”
“Um sundi.”
“Sundi?”
“É, um sorvete desses, esse com chocolate.”
“Ah, um Sunday.”

Henrique era o nome dele. E apesar de ter apenas nove anos, seus olhos denotavam algo que me assustava. Neles faltava a inocência. Henrique não mora em lugar algum. Como eu naquele dia, ele passeia. Disse que nasceu no Jacarezinho, e que a dois anos atrás fugiu de casa.

“Cansei de apanhar. Com o tempo, enche o saco”.

Fugiu com o irmão, Wellinton, de doze anos, logo após a morte da mãe, Alessandra.

“Ela morreu de sofrer.”

Quis perguntar o que essa afirmação significava, mas Henrique me barrou, com seus grandes olhos castanhos, cheios de desconfiança.
Primeiro foi a Ipanema, onde ficava perto de uma bar, na rua Maria Quitéria, pedindo moedas e ás vezes ganhado notas. E de lá foi passeando.

“Eu não sou mendigo. Não uso drogas.”

E assim tomamos os sorvetes, enquanto a imponência da estátua de Dom João VI nos observava, sem nunca saber de quantos Henriques sua colônia é feita.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Programa de Domingo

Além de comercial, o centro é um bairro cultural. É assim desde que D. João aportou no Rio e transformou a cidade na capital da cultura. Apesar da variedade de programas interessantes que o centro do Rio oferece, algumas pessoas ainda dizem que não há o que se fazer na cidade.

Porém, o centro tem uma diversidade de lugares pouco conhecidos, que podem fazer você se sentir um turista em sua própria cidade. No site do armazém de dados do Instituto Pereira Passos existe um mapa, contendo todos os museus, igrejas, monumentos e tantos outros estabelecimentos culturais para se visitar nesse bairro.

O mapa, desenvolvido pela Riotur (secretaria municipal de cultura), possui 31 lugares que devem ser conhecidos; da Central do Brasil ao Palácio da Ilha Fiscal. Além disso, ele mostra os limites entre os bairros vizinhos do centro e as linhas de metrô.

Todos os lugares listados no mapa têm a entrada gratuita, a não ser em algumas exposições da Casa França Brasil. E para visitar certos locais é preciso informar antes, como no caso do Mosteiro de São Bento.

Portanto no próximo domingo, ao invés de ficar em casa assistindo televisão, vá conhecer o centro da sua cidade e veja tudo o que ele tem para oferecer.

O mapa encontra-se nesse site : http://www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/arquivos/1363_turismo%20centro.JPG

Profissão: Estátua

Já foi uma lagoa, no século XVIII. Virou praça com chafariz, a primeira grande obra de urbanização da cidade. No século XIX era ponto de encontro de escritores, artistas e intelectuais, freqüentadores do Centro. Ao longo do século XX, foi sendo cercado por edifícios. O Largo da Carioca hoje é símbolo da mistura de todo tipo de gente, comportamento e culturas que se encontram como em nenhum outro lugar da cidade. Camelôs, pregadores, pedestres e, em meio a tantas coisas estranhas, uma “estátua” prateada chama atenção de quem passa.

Marcelo Nascimento do Santos tem 26 anos e há 12 trabalha como estátua viva, viajando o Brasil inteiro para demonstrar a sua arte. Nascido em Paragominas, Goiás, mudou-se aos sete anos para a casa dos tios em Porto Seguro. Porém, foi em São Luis do Maranhão que Marcelo descobriu a arte de ser estátua. Em uma viagem com a família, aprendeu com o amigo, a quem chama de professor, que baseado na literatura grega desenvolveu o trabalho que já faz há 19 anos.

- Não costumo ficar muito tempo em cada cidade. O Rio é a que mais me prende, há muitas mulheres bonitas e passo muito por aqui por ser caminho para São Paulo. Estou há quatro meses e vou rodar o estado do Rio até janeiro, quando volto para casa.

Com a sua arte, Marcelo ganha entre R$120 e R$200 por dia. Parte do dinheiro ele manda para pagar a pensão do filho de três anos que mora em Vitória, Espírito Santo, com a família.

- Agora vou para casa dia 13 de janeiro, que é o aniversário do meu filho. Fico cinco dias lá. Depois passo um ano viajando de ônibus, parando e me apresentando nas cidades pelo caminho. Meu próximo destino é a Bahia, lá fico uns três meses. Mas só gosto de me apresentar nas cidades grandes, onde têm mais público.

O artista conta que o melhor da profissão é levar a arte para quem não conhece e estar em contato com as pessoas, “estar no meio de gente”, como ele mesmo define. As crianças adoram o trabalho e chegam até a pensar que são bonecos de verdades. Há muitos contratos para festas infantis.

Pelas cidades há uma comunidade de artistas que fazem estátuas vivas. Eles se encontram pelo país e um ajuda o outro, muitos já se conhecem por estarem há muito tempo no meio. O grande contratempo do trabalho é a chuva. Com o sol eles já se acostumaram, mas com chuva não tem como trabalhar.

Marcelo não chegou a terminar o Ensino Médio. Seu desejo é completar os estudos e abrir o próprio negócio para não ter mais que trabalhar como estátua viva. Seu grande sonho é ir para a Europa.

- Lá (Europa) as pessoas dão muito mais valor a arte. As pessoas realmente dão dinheiro. Brasileiro não sabe dar valor a arte não, quer mais é esculachar mesmo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ensino no Centro

Investimentos na educação sempre estiveram como prioridade nos planos de todos os políticos que já governaram o estado do Rio, sendo assim, foram arquitetados projetos que planejavam construir mais escolas, iniciativas que passaram a oferecer transporte e pretendiam melhorar a merenda dos alunos,além da instalação de biliotecas e laboratórios de informática nos colégios.

Segundo o Ministério da Educação (MEC) 1.959.738 alunos foram matriculados, no ensino fundamental, em escolas estatudais e municipais no Rio, no ano 2006. Esses estudantes foram inscritos em um programa do governo, que estabelece a duração de nove anos até o término do ensino fundamental, para assegurar um tempo mais longo de convívio escolar e construindo assim um vínculo maior entre as crianças e a escola.

O Instituto Pereira Passos (IPP) afirma existirem no centro do Rio dez escolas, com 5.544 alunos matriculados o ensino fundamental, porém no bairro só residem 2.875 crianças na faixa etária correta para estarem cursando da primeira a oitava série.

Em entrevista, a professora da rede estadual, Cleusa Jacira afirmou existirem vários motivos para esse maior número de alunos. Conforme a professora, alguns de seus pupilos moram em outros munícipios ou bairros, e são matriculados em escolas do centro por elas serem mais próximas de onde seus pais trabalham.

Cleusa acredita que se a prefeitura cria-se algum programa que garantisse que as crianças ficassem ocupadas durante o resto do dia, como um ensino em horário integral ou um projeto com atividades interessantes para os alunos, os pais não teriam que se preocupar tantocom os filhos e o indíce de evasão escolar diminuiria.

sábado, 3 de novembro de 2007

A arte de morar no centro do Rio de Janeiro

Todos os dias, a estudante Sofia Monti atravessa a pé a praça Vigílio de melo Franco e, em menos de um quarteirão, está no burburinho da movimentada esquina da Avenida Antônio Carlos com Presidente Wilson. Aluna do curso de Ciências Sociais no IFCS, no Largo de São Francisco, ela gosta de poder caminhar para a faculdade, privilégio que poucos dos seus colegas têm. Mas a maior vantagem de Sofia, moradora de um apartamento de fundos no número 242 da Avenida Beira Mar, é o silêncio. De noite e fins de semana, por haver pouco movimento, o silêncio impera nas ruas desertas deste bairro sempre tão cheio de gente. Porém, a falta de movimento faz com que Sofia só volte para casa com o dia claro. “Quando era mais nova tinha medo e só andava de táxi. Hoje em dia pego ônibus tranqüila, mas só volto para casa quando amanhece, até porque as ruas ficam completamente desertas.”

Um bairro predominantemente comercial, o Centro é o 31º na lista dos bairros mais populosos do Rio, com 39.135 moradores distribuídos em 16.844 domicílios. Em sua maioria apartamentos com apenas um morador, segundo dados do ano 2000 do IPP.

As vantagens e desvantagens de morar há 13 anos no Castelo quem explica é a própria estudante:

- Me sinto perto de tudo, médicos, lojas de roupa, restaurantes de todos os tipos e preços...A principal desvantagem é a falta de supermercados perto. Existem até pequenos mercados, mas que fecham nos fins de semana, então geralmente fazemos compras no Flamengo ou Largo do Machado.
Uma das maiores vantagens pra mim é a facilidade de transporte, ando principalmente de ônibus, e não faltam opções, tanto para a zona sul quanto pra zona norte. Em 20 minutos chego na Tijuca, mesmo tempo que levo até Copacabana. Além disso, moro muito perto da minha faculdade e meus pais em cinco minutos andando estão no trabalho (consulado da Itália).

Antônio Carlos mora há alguns meses no bairro e não sabe definir se mora em Gamboa ou no Santo Cristo, só sabe que é no Centro. Sobre morar em um bairro predominantemente comercial, ele comenta:


- Bem, realmente é "estranho" para quem sempre morou em lugares residenciais, mas não é de todo ruim. Sem contar que (pelo menos aqui no Rio de Janeiro), existem muitos prédios mistos (ou seja, residencial e comercial), existem também casas, apartamentos e vilas (de casas). Vejo isso com naturalidade, normal até eu diria.

Servido por mais de 130 linhas de ônibus, sete estações de metrô e uma de trem, a facilidade de transporte é uma das principais vantagens do Centro. O analista de sistemas gosta de aproveitar tanta oferta e estar perto de tudo: “Seja para a Zona Sul, Zona Norte, Leste e até mesmo para a Baixada Fluminense, sempre tem condução para estes lugares”.

Sofia comenta sobre o estranhamento das pessoas ao contar que mora no Centro.

- Não diria preconceito, mas a reação das pessoas quando digo onde moro é sempre de surpresa. E sempre fazem comentários ‘nossa, não sabia que existiam prédio residenciais lá’. Ah, tenho também amigas que tem medo de vir aqui por julgarem muito perigoso. Eu compreendo, mas moro aqui há 13 anos e já fui assaltada três vezes e meu irmão cinco, todas na Zona Sul, nenhuma aqui.