quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Profissão: Estátua

Já foi uma lagoa, no século XVIII. Virou praça com chafariz, a primeira grande obra de urbanização da cidade. No século XIX era ponto de encontro de escritores, artistas e intelectuais, freqüentadores do Centro. Ao longo do século XX, foi sendo cercado por edifícios. O Largo da Carioca hoje é símbolo da mistura de todo tipo de gente, comportamento e culturas que se encontram como em nenhum outro lugar da cidade. Camelôs, pregadores, pedestres e, em meio a tantas coisas estranhas, uma “estátua” prateada chama atenção de quem passa.

Marcelo Nascimento do Santos tem 26 anos e há 12 trabalha como estátua viva, viajando o Brasil inteiro para demonstrar a sua arte. Nascido em Paragominas, Goiás, mudou-se aos sete anos para a casa dos tios em Porto Seguro. Porém, foi em São Luis do Maranhão que Marcelo descobriu a arte de ser estátua. Em uma viagem com a família, aprendeu com o amigo, a quem chama de professor, que baseado na literatura grega desenvolveu o trabalho que já faz há 19 anos.

- Não costumo ficar muito tempo em cada cidade. O Rio é a que mais me prende, há muitas mulheres bonitas e passo muito por aqui por ser caminho para São Paulo. Estou há quatro meses e vou rodar o estado do Rio até janeiro, quando volto para casa.

Com a sua arte, Marcelo ganha entre R$120 e R$200 por dia. Parte do dinheiro ele manda para pagar a pensão do filho de três anos que mora em Vitória, Espírito Santo, com a família.

- Agora vou para casa dia 13 de janeiro, que é o aniversário do meu filho. Fico cinco dias lá. Depois passo um ano viajando de ônibus, parando e me apresentando nas cidades pelo caminho. Meu próximo destino é a Bahia, lá fico uns três meses. Mas só gosto de me apresentar nas cidades grandes, onde têm mais público.

O artista conta que o melhor da profissão é levar a arte para quem não conhece e estar em contato com as pessoas, “estar no meio de gente”, como ele mesmo define. As crianças adoram o trabalho e chegam até a pensar que são bonecos de verdades. Há muitos contratos para festas infantis.

Pelas cidades há uma comunidade de artistas que fazem estátuas vivas. Eles se encontram pelo país e um ajuda o outro, muitos já se conhecem por estarem há muito tempo no meio. O grande contratempo do trabalho é a chuva. Com o sol eles já se acostumaram, mas com chuva não tem como trabalhar.

Marcelo não chegou a terminar o Ensino Médio. Seu desejo é completar os estudos e abrir o próprio negócio para não ter mais que trabalhar como estátua viva. Seu grande sonho é ir para a Europa.

- Lá (Europa) as pessoas dão muito mais valor a arte. As pessoas realmente dão dinheiro. Brasileiro não sabe dar valor a arte não, quer mais é esculachar mesmo.

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