quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Um oasis no meio do caos

Escondido entre a Praça Tiradentes e o Largo de São Francisco, em uma área tomada por coreanos que vendem todos os tipos de coisas, há um sebo com uma fachada discreta, que engana a riqueza do seu interior.

Localizado em uma área pouco conhecida da cidade, o sebo Letra Viva chega a parecer uma biblioteca. Com o pé direito alto e estantes super organizadas por autor ou tema, o sebo conta com um acervo de mais de 50 mil livros de diversos estilos. Com apenas quatro anos de existência, a loja já conta com clientes fiéis, que chegam a freqüentá-la mais de duas vezes na semana. O espaço amplo e as cadeiras confortáveis permitem que o cliente fique horas na loja sem perceber o tempo passar.

“Já passei uma tarde inteira olhando os livros e tentando escolher quais compraria daquela vez. São muitas opções, dá vontade de levar todos para casa e o preço ajuda. Aqui acho livros muito mais barato que em uma livraria e em perfeito estado.” Conta a estudante Ana Luisa Correa, freqüentadora assídua do sebo

Mas não é qualquer livro que é permitido, as regras para a compra são rígidas. “Quando a pessoa quer vender mais de 100 livros, vamos até ela avaliar o estado, a importância e a edição de cada um particularmente. Não há consignação, nós realmente compramos os livros. Só não aceitamos enciclopédias.” Explica o vendedor Sidney. Os livros devem também atender às necessidades do público. “Outro dia vieram vender livros de Odontologia, mas pela edição percebemos que eles já estavam defasados. Algumas áreas como o jurídico e a medicina estão em constantes atualizações, precisamos estar sempre renovando o acervo.”

Segundo o vendedor Antônio, há uma maior procura pelos livros de filosofia. “Por causa do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sócias – UFRJ) há uma procura muito grande por este assunto. Mas há muitas faculdades na área do Centro, de Economia e Administração à Filosofia, por isso atendemos muitos alunos e professores que procuram livros de acordo com a sua especialidade.”

O sebo trabalha ainda com um esquema de reservas de livros. É só ligar e reservar o livro desejado, o cliente tem um dia para ir buscá-lo na loja.



Letra Viva
R. Luiz de Camões, 10 – Centro
Tel: 2252-3460 Telefax: 2252-3513

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

“Mulher bonita não paga, mas também não leva”

Um dos pontos comerciais mais importantes do centro do Rio, a Saara é conhecida por sua variedade de produtos e por ser um pólo de gastronomia árabe. Indo desde a Av. Presidente Vargas, na altura da R. Uruguaiana, até o Campo de Santana, o mercado ainda abrange a Av. Passos, a R. Sr. dos Passos, a R. Buenos Aires e a R. da Alfândega.

Criado a partir de uma associação de comerciantes em 1962, nesse centro comercial é possível encontrar produtos que vão de tecidos a culinária, fantasias a artigos esportivos, brinquedos, calçados, bijuterias, além do que há de mais inusitado e exótico.

A Saara (Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega) possui 600 lojas no total, além dos ambulantes que atrapalham o trânsito pelas suas ruas. Funciona, durante a semana, de 9h às 18h e aos sábados de 9h às 14h, segundo o horário "oficial". Mas há lojas que chegam a abrir às 5 da manhã e em geral não se recomenda ir aos sábados depois de meio-dia ou 13h, pois a maioria das lojas já estará fechada.

O que mais chama atenção nessa Meca do comércio no centro do Rio é a rádio Saara. Com tiradas hilárias e jingles improvisados, às vezes em ritmo de funk, a rádio anuncia as promoções nas lojas, com muito humor e com o jeitinho carioca. Parar para escutar as proezas proferidas pelos locutores, torna toda a experiência de comprar na Saara muito mais divertida e irreverente.

Se você decidir visitar essa grande feira de variedades no coração da cidade, busque um dia de temperatura mais amena,pois o mercado realmente faz jus ao nome e o calor torna as compras uma atividade exaustiva. Prefira os sábados, já que nesse dia o estacionamento é gratuito na Av. Presidente Vargas. Boas Compras.

Website: http://www.saarario.com.br/

Contato: informacoes@saarario.com.br

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

"Não é só porque é R$1 que é porcaria não"

Construído com base no projeto do artista francês Albert Guilbert e inspirado no teatro da Ópera de Paris, o Theatro Municipal foi construído com material importado da Europa para marcar o fim da reforma urbana realizada pelo prefeito Pereira Passos. Inaugurado em 14 de julho de 1909, o teatro conta com pinturas e esculturas de Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo e Rodolfo Bernardel, famosos artistas brasileiros da época.

Apenas a partir dos anos 30 o teatro passou a ter o seu próprio corpo artístico, formado de coro, orquestra e balé. Até então, funcionava apenas como uma casa de espetáculos. Em 1974, com a fusão da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro, o Municipal deixou de pertencer ao município passando para a administração estadual.

No último domingo de cada mês, o teatro, que tem capacidade para 2.360 lugares, fica pequeno para as mais de 5.000 pessoas que buscam assistir a um espetáculo pelo preço de R$ 1. Segundo o chefe da bilheteria, Rayne da Silva, os ingressos se esgotam em 40 minutos e há muitas famílias, inclusive crianças:

- Quando é balé, as pessoas vêm de longe, Nova Iguaçu, Belford Roxo. Chegam às 6 da manhã para formar a fila, compram ingresso às 9h e ficam até as 11h dentro do teatro aguardando o espetáculo começar. A classe média não costuma gostar pois diz que é muito tumulto – diz ele.

Para tentar driblar os cambistas, câmeras de segurança vigiam a bilheteria para que uma mesma pessoa não compre ingressos para o mesmo espetáculo mais de uma vez. “Como eles já sabem disso, mandam parentes ou conhecidos para comprar. E nós somos obrigados a vender para qualquer pessoa, com um limite de seis ingressos por apresentação”, explica. Além do problema com cambistas, os bilheteiros sofrem com a falta de educação de alguns freqüentadores que não aceitam regras como a apresentação obrigatória da carteira de estudante no ato da compra do ingresso.

Rayne reclama ainda da falta de informação para o público. Para compensar a ausência de releases, ele mesmo que imprime uma folha com alguns dados como nome do espetáculo, maestro, hora, etc.

A professora aposentada Heloísa Helena Oliveira, freqüentadora assídua do teatro, é só elogios. “Não existe programação melhor no Rio de Janeiro inteiro do que a do Theatro Municipal, é uma referência cultural. Antigamente o Theatro só era freqüentado pela elite. Os domingos a R$1 democratizaram e divulgaram a música clássica. Não é só porque é R$1 que é porcaria não. Quem quiser pagar caro, paga, quem não pode, assiste do mesmo jeito.”

Heloísa sugere uma maior integração entre o teatro e as escolas, afinal as crianças só aprenderão a gostar de música clássica se tiverem algum contato. Segunda ela, deveria haver uma pessoa que explicasse para o público jovem um pouco sobre o concerto que será apresentado, sobre o compositor e sobre como se comportar no Municipal. “As apresentações deveriam ser mais didáticas.”

O bilheteiro Ailton Leal da Silva conta que o amor do público pelo Municipal é tanto que há quem diga que já viu fantasmas sentados na platéia. Ele lembra ainda que cultura nunca é demais. “De mil pessoas que vierem ao teatro, dez não vão gostar, mesmo que nunca tenham visto. Uma pessoa pode descobrir um talento ao assistir a um concerto, ela pode se encantar, resolver estudar um instrumento e mudar de vida por conta disso.”

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Explode coração na maior felicidade

Freud disse que no processo de crescimento do ser humano ele passa por ritos de passagem. Da infância para a adolescência, da adolescência para a vida adulta e assim por diante, até o fim de nossos dias. E um dos ritos de passagem da minha família é o carnaval. Não simplesmente a festa, mas o ato de assistir o carnaval no sambódromo. Minha irmã, eu e meu irmão, quando cada um completou respectivamente dez anos de idade, nossos pais perguntaram-nos se estamos prontos para sair dos bailinhos e ir ver o carnaval como gente grande, na Marquês de Sapucaí.

Nesse ícone do samba arquitetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1984 durante o governo do Brizola, eu passei, encantada, meu primeiro carnaval de gente grande, há dez nos atrás. Porém, desde então muita coisa mudou.

O básico continua igual, as escolas têm no mínimo sessenta e cinco minutos pra desfilar e no máximo oitenta, marcados por relógios eletrônicos que atraem os olhos dos mais dramáticos, sempre repetindo: “Não vai dar tempo, não vai.” Porém o festival de luzes e a qualidade do som mudaram muito.

Dividida em dez setores, a Sapucaí tem capacidade para mais de 88.500 pessoas nos seus 700 metros de comprimento. Os setores têm três andares (A,B e C), e digo por experiência própria que o melhor andar é o B. No A você se sente dentro do desfile, mas não consegue ver os carros e as fantasias (alegorias e adereços) direito, e quando a bateria passa você não sabe se tampa primeiro os ouvidos ou o nariz. Já no C, você vê os carros perfeitamente, mas se algum amigo seu está desfilando desista, você não vai conseguir enxergá-lo.

No começo, do lado esquerdo, e no final, do lado direito, da avenida existem cadeiras de pista, conhecidas como frisas, que permitem ao público grande interação com o desfile. Mas se chover, molhou, porque nessa parte do sambódromo não existe proteção. As cabines dos jurados ficam do lado esquerdo da Sapucaí, uma no começo, no setor cinco, e outra no final, no setor sete ao lado do recuo da bateria.

Se o folião quiser curtir o carnaval gratuitamente as vagas para o setor 1 são doadas pelas escolas de samba. Sempre o setor mais animado, essa arquibancada é a primeira a lotar e fica ao lado do esquenta da bateria, e com a bateria tocando não dá para ficar parado. Assim como o setor 1, todos os outros setores, menos o setor 2, possuem arquibancadas, aonde os preços vão de dez reais nas populares a quinhentos reais nas turísticas. Sendo o preço no sábado, desfile só das campeãs, a metade do original.

O setor 2 só é composto por camarotes, porém boa parte do primeiro andar desse setor é ocupado pelo vip da cerveja Brahma, ou seja, só tem famoso. Além do setor 2, todos os outros setores, menos o 1, possuem camarotes, cujo preço varia dependendo da localização.

Todos os setores possuem banheiros, alguns com adaptações para deficientes, restaurantes, cabines da polícia militar e ambulatórios. Além de achados e perdidos e outras facilidades, que ajudam o folião a curtir melhor a festa.

O ícone do carnaval já presenciou de tudo e sua estrutura imponente atrai os olhos de quem passa na Avenida Presidente Vargas, provando que o Brasil é o país do carnaval, o Rio é a cidade do samba e que ele, o sambódromo, é o templo dos sambistas. E eu sou um deles, nem ruim da cabeça e nem doente do pé.