quinta-feira, 4 de outubro de 2007

"Não é só porque é R$1 que é porcaria não"

Construído com base no projeto do artista francês Albert Guilbert e inspirado no teatro da Ópera de Paris, o Theatro Municipal foi construído com material importado da Europa para marcar o fim da reforma urbana realizada pelo prefeito Pereira Passos. Inaugurado em 14 de julho de 1909, o teatro conta com pinturas e esculturas de Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo e Rodolfo Bernardel, famosos artistas brasileiros da época.

Apenas a partir dos anos 30 o teatro passou a ter o seu próprio corpo artístico, formado de coro, orquestra e balé. Até então, funcionava apenas como uma casa de espetáculos. Em 1974, com a fusão da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro, o Municipal deixou de pertencer ao município passando para a administração estadual.

No último domingo de cada mês, o teatro, que tem capacidade para 2.360 lugares, fica pequeno para as mais de 5.000 pessoas que buscam assistir a um espetáculo pelo preço de R$ 1. Segundo o chefe da bilheteria, Rayne da Silva, os ingressos se esgotam em 40 minutos e há muitas famílias, inclusive crianças:

- Quando é balé, as pessoas vêm de longe, Nova Iguaçu, Belford Roxo. Chegam às 6 da manhã para formar a fila, compram ingresso às 9h e ficam até as 11h dentro do teatro aguardando o espetáculo começar. A classe média não costuma gostar pois diz que é muito tumulto – diz ele.

Para tentar driblar os cambistas, câmeras de segurança vigiam a bilheteria para que uma mesma pessoa não compre ingressos para o mesmo espetáculo mais de uma vez. “Como eles já sabem disso, mandam parentes ou conhecidos para comprar. E nós somos obrigados a vender para qualquer pessoa, com um limite de seis ingressos por apresentação”, explica. Além do problema com cambistas, os bilheteiros sofrem com a falta de educação de alguns freqüentadores que não aceitam regras como a apresentação obrigatória da carteira de estudante no ato da compra do ingresso.

Rayne reclama ainda da falta de informação para o público. Para compensar a ausência de releases, ele mesmo que imprime uma folha com alguns dados como nome do espetáculo, maestro, hora, etc.

A professora aposentada Heloísa Helena Oliveira, freqüentadora assídua do teatro, é só elogios. “Não existe programação melhor no Rio de Janeiro inteiro do que a do Theatro Municipal, é uma referência cultural. Antigamente o Theatro só era freqüentado pela elite. Os domingos a R$1 democratizaram e divulgaram a música clássica. Não é só porque é R$1 que é porcaria não. Quem quiser pagar caro, paga, quem não pode, assiste do mesmo jeito.”

Heloísa sugere uma maior integração entre o teatro e as escolas, afinal as crianças só aprenderão a gostar de música clássica se tiverem algum contato. Segunda ela, deveria haver uma pessoa que explicasse para o público jovem um pouco sobre o concerto que será apresentado, sobre o compositor e sobre como se comportar no Municipal. “As apresentações deveriam ser mais didáticas.”

O bilheteiro Ailton Leal da Silva conta que o amor do público pelo Municipal é tanto que há quem diga que já viu fantasmas sentados na platéia. Ele lembra ainda que cultura nunca é demais. “De mil pessoas que vierem ao teatro, dez não vão gostar, mesmo que nunca tenham visto. Uma pessoa pode descobrir um talento ao assistir a um concerto, ela pode se encantar, resolver estudar um instrumento e mudar de vida por conta disso.”

Nenhum comentário: