quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Explode coração na maior felicidade

Freud disse que no processo de crescimento do ser humano ele passa por ritos de passagem. Da infância para a adolescência, da adolescência para a vida adulta e assim por diante, até o fim de nossos dias. E um dos ritos de passagem da minha família é o carnaval. Não simplesmente a festa, mas o ato de assistir o carnaval no sambódromo. Minha irmã, eu e meu irmão, quando cada um completou respectivamente dez anos de idade, nossos pais perguntaram-nos se estamos prontos para sair dos bailinhos e ir ver o carnaval como gente grande, na Marquês de Sapucaí.

Nesse ícone do samba arquitetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1984 durante o governo do Brizola, eu passei, encantada, meu primeiro carnaval de gente grande, há dez nos atrás. Porém, desde então muita coisa mudou.

O básico continua igual, as escolas têm no mínimo sessenta e cinco minutos pra desfilar e no máximo oitenta, marcados por relógios eletrônicos que atraem os olhos dos mais dramáticos, sempre repetindo: “Não vai dar tempo, não vai.” Porém o festival de luzes e a qualidade do som mudaram muito.

Dividida em dez setores, a Sapucaí tem capacidade para mais de 88.500 pessoas nos seus 700 metros de comprimento. Os setores têm três andares (A,B e C), e digo por experiência própria que o melhor andar é o B. No A você se sente dentro do desfile, mas não consegue ver os carros e as fantasias (alegorias e adereços) direito, e quando a bateria passa você não sabe se tampa primeiro os ouvidos ou o nariz. Já no C, você vê os carros perfeitamente, mas se algum amigo seu está desfilando desista, você não vai conseguir enxergá-lo.

No começo, do lado esquerdo, e no final, do lado direito, da avenida existem cadeiras de pista, conhecidas como frisas, que permitem ao público grande interação com o desfile. Mas se chover, molhou, porque nessa parte do sambódromo não existe proteção. As cabines dos jurados ficam do lado esquerdo da Sapucaí, uma no começo, no setor cinco, e outra no final, no setor sete ao lado do recuo da bateria.

Se o folião quiser curtir o carnaval gratuitamente as vagas para o setor 1 são doadas pelas escolas de samba. Sempre o setor mais animado, essa arquibancada é a primeira a lotar e fica ao lado do esquenta da bateria, e com a bateria tocando não dá para ficar parado. Assim como o setor 1, todos os outros setores, menos o setor 2, possuem arquibancadas, aonde os preços vão de dez reais nas populares a quinhentos reais nas turísticas. Sendo o preço no sábado, desfile só das campeãs, a metade do original.

O setor 2 só é composto por camarotes, porém boa parte do primeiro andar desse setor é ocupado pelo vip da cerveja Brahma, ou seja, só tem famoso. Além do setor 2, todos os outros setores, menos o 1, possuem camarotes, cujo preço varia dependendo da localização.

Todos os setores possuem banheiros, alguns com adaptações para deficientes, restaurantes, cabines da polícia militar e ambulatórios. Além de achados e perdidos e outras facilidades, que ajudam o folião a curtir melhor a festa.

O ícone do carnaval já presenciou de tudo e sua estrutura imponente atrai os olhos de quem passa na Avenida Presidente Vargas, provando que o Brasil é o país do carnaval, o Rio é a cidade do samba e que ele, o sambódromo, é o templo dos sambistas. E eu sou um deles, nem ruim da cabeça e nem doente do pé.

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