quinta-feira, 13 de setembro de 2007

"Seja marginal, seja herói"

“A Tropicália pode ser descrita como um diálogo interdisciplinar que forneceu um modelo para a compreensão de como a arte e cultura podem moldar a identidade nacional numa sociedade multicultural e em desenvolvimento.” Assim começa o texto que descreve a exposição “Tropicália – uma revolução na cultura brasileira”, em cartaz até 30 de setembro no MAM. No mesmo lugar onde, há 40 anos, aconteceu a mostra Nova Objetividade Brasileira, quando Hélio Oiticica expôs a instalação que batizou aquele movimento cultural de Tropicália.

Divida em áreas, cada seção corresponde a um campo explorado no universo tropicalista: arquitetura, teatro e artes visuais. No primeiro andar, o visitante encontra uma grande piscina de bolas, aberta ao público, primeiro sinal de que esta não é uma exposição comum. Instalações diversas e obras interativas possibilitam a experiência de novas sensações, a percepção do movimento, a sensação, literalmente na pele, de um dos conceitos da Tropicália: a quebra de padrões.

Em destaque há a obra de Hélio Oiticica, na qual os visitantes tiram o sapato e passam por um caminho feito de pedrinhas que leva a diversos espaços com areia, água, espumas, grama, tudo isso para experimentar diversas sensações. Muitos recuam diante do convite para caminhar sobre os livros. Mais adiante, uma reprodução de um “barraco” de favela, com espaço que cabe apenas uma pessoa e uma TV em preto e branco que exibia o programa “Qual é a música”, com Silvio Santos.

Em um segundo ambiente, está a instalação “A casa e o corpo” de Lygia Clark, entre outras da artista. Movido pela curiosidade, o visitante é convidado a entrar em um ambiente escuro para descobrir o que há lá dentro. Porém, o que mais chama atenção nesta parte é a obra de Rubens Gerchman, letras quase do tamanho de uma pessoa que formam a palavra LUTE, instalação em sintonia com a frase de Oiticica que se transformou no slogan do movimento: “Seja marginal, seja herói”

A socióloga Branca Oliveira fala da importância da exposição:
- Acho importante para resgatar a memória de uma arte que marcou época – a arte sensorial. É uma arte primitiva no quesito das sensações que hoje não são comuns, não lembrava há quanto tempo não pisava na terra. A estética das roupas dos anos 60 é um máximo, mostra que dos 80 pra cá pouca coisa foi inventada, no máximo as modas se repetem. A exposição em si é uma quebra de padrões, pois rompe com o estereotipo de que exposição é uma coisa chata, com a qual não se pode interagir. É pequena, mas para quem não pegou essa época, dá uma idéia do que foi a Tropicália.

Além das artes visuais há também a música. Televisões ficam reproduzindo trechos dos famosos Festivais da Canção, entrevistas e shows que marcaram época. O único problema é que não há fones de ouvido, portanto há uma certa interferência dos sons dos outros vídeos. Mas nada que atrapalhe a experiência de (re)viver algo novo, diferente.



Exposição "Tropicália - Uma Revolução na Cultura Brasileira"
Período: 08 de agosto a 30 de setembro de 2007
Horários: terça a sexta-feira, de 12h às 18h; sábado, domingo e feriado, de 12h às 19h
Local: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro Endereço: Av. Infante Dom Henrique 85, Parque do Flamengo - Rio de Janeiro

2 comentários:

Ugo Medeiros disse...

Finalmente este movimento ganha o devido respeito. Parabens pela excelente matéria!

Ugo Medeiros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.